sexta-feira, 18 de junho de 2010

Testemunho...

"Quando este trabalho começou a ganhar forma, e depois de delineada a estrutura que iria ter, decidi que uma forma engraçada de apresentá-lo seria dividindo-o em sete capítulos, na medida em que o número sete tem sido aquele que ao, longo da minha vida, me tem acompanhado. Adoptei-o como sendo o meu número.

Senão vejamos:

Sete era o número do autocarro que passava na minha rua em Moçambique, são sete os dias de semana, são sete anões, são sete os pecados mortais, são sete as maravilhas do mundo, os gatos têm sete vidas, sete dias da criação do mundo, sete cores do arco-íris, sete notas musicais, o sétimo céu, os sete grupos de vértebras, sete é o número com que joguei toda a vida basquete, sete são os capítulos deste trabalho e também pensei acabar em sete meses o meu portefólio, tendo começando em Outubro e terminando em Abril, aproximadamente.

Quando, ao fim de muitas hesitações, concretizei a inscrição para o processo de conclusão do décimo segundo ano, através do Centro de Novas Oportunidades da Escola Joaquim de Carvalho, sete preocupações surgiram na minha mente, logo depois de me terem sido dadas as primeiras dicas do que seria necessário para a conclusão de tal acto.

1- Seria capaz de “roubar” tempo ao meu tempo disponível para concretizar tamanha tarefa?

2- Seria capaz de frequentar novamente a escola, depois de a ter deixado de frequentar há tanto tempo, inserido num grupo desconhecido?

3- Teria novamente disponibilidade mental para estar frente a professores/formadores?

4- Seria eu capaz de escrever um trabalho tão extenso, transmitir as minhas ideias de forma clara e coerente, tendo tão pouca prática de escrita?

5- Conseguiria organizar um portefólio que se baseasse na minha experiência de vida e, simultaneamente, obedecesse às competências pedidas?

6- E escrevendo-o, cumpriria o prazo determinado para a execução da tarefa?

7- Serei capaz de defender o meu trabalho frente ao um júri designado para tal efeito?

Depois de concluído o portefólio que, modéstia à parte, julgo ser de qualidade razoável, eis sete conclusões que desejo realçar:

1- Frequentar a escola, inserido num grupo tão heterogéneo, revelou-se interessante e refrescante;

2- Depois da dificuldade inicial, que passou pela organização das ideias e sua posterior transposição para o papel, de maneira a fazer sentido e ser perceptível para quem o venha a ler, escrever revelou-se uma agradável surpresa, que poderia classificar como uma actividade libertadora;

3- Ter sido capaz de argumentar, discutir, conversar, sobre diversos temas - uns mais actuais do que outros - sobre diversos prismas, fossem eles Cultura, Língua e Comunicação; Sociedade, Tecnologia e Ciência ou Cidadania e Profissionalidade foi uma experiência enriquecedora, que me ajudou a ultrapassar a minha timidez natural;

4- Concentrar-me na elaboração do trabalho, nas pesquisas necessárias e na sua organização implicou uma auto-disciplina salutar que eu desconhecia ter neste domínio específico da escrita;

5- Revisitar alguns episódios do passado, debruçar-me com outro olhar sobre alguns factos e acontecimentos permitiram aprofundar o meu auto-conhecimento;

6- Reflectir, em voz alta, sobre o trabalho e sobre os temas que engloba, envolveu a minha família, gerando discussões que levaram a trocas saudáveis de opiniões e de posições acerca dos diferentes temas;

7- At last but not at least, e sem qualquer falsa modéstia, concluir este trabalho proporciona-me a satisfação e o orgulho de ter cumprido o desafio que me tinha proposto.

Estou mesmo nas últimas linhas e questiono-me: “Então e a seguir, que objectivos queres tu traçar para os tempos vindouros?”

Depois de alguma introspecção destrinço algumas hipóteses que têm viabilidade, nomeadamente, prosseguir estudos (caso conclua o R.V.C.C.) que enriqueçam a minha actividade profissional e proporcionem uma ascensão na carreira tributária, ingressar na Faculdade de Motricidade Humana para, enquanto professor de Educação Física, promover a modalidade que sempre pratiquei. Outra opção poderá passar pelo regresso a Moçambique, a fim de divulgar o ensino e a prática do basquetebol em Quelimane, longe da capital, num clube ou numa qualquer instituição de solidariedade social, preferencialmente conjugada com o precioso apoio da minha mulher (professora), que tem especial apreço por Moçambique, na leccionação da Língua Portuguesa, pois sei o quanto os meus “patrícios” estão carentes deste tipo de iniciativas e as recebem com a simpatia e a humildade que lhe são características.


Poema Mestiço

Escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico

Sangro norte
em coração do sul

na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo

hei-de
começar mais tarde

por ora
sou a pegada
do passo por acontecer...

                                         Mia Couto"


(Conclusão do PRA do Adulto António Almeida - certificado com o Nível Secundário)

Rita Basílio, Profissional de RVC

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