quarta-feira, 7 de julho de 2010

O MITO DE QUE OS PORTUGUESES NÃO GOSTAM DA ESCOLA


"A Iniciativa Novas Oportunidades criou uma nova paisagem no país. Foi pena não ter havido a capacidade nem a visão para a implementar décadas antes. Portugal deixou arrastar o ensino pelas vias da exclusão de grande parte dos jovens e não desenvolveu qualquer esforço sistemático para recuperar o défice de qualificações certificadas dos activos.

Com isso perdiam as pessoas, perdia a qualidade da democracia e perdia a eficiência da economia, conhecidos como são os efeitos determinantes das qualificações em todos esses domínios. A Iniciativa Novas Oportunidades, por muito que pese aos saudosistas do medíocre sistema de ensino do passado, está a mudar o panorama. Saliento as qualidades que a distinguem como política exemplar na UE e na OCDE.

Em primeiro lugar, o sucesso e a adesão que concitou. Em quatro anos inscreveram-se nas diversas medidas disponíveis para adultos cerca de 1.200.000 pessoas, das quais mais de 400.000 já obtiveram um diploma. Há três anos apenas eram pouco mais de um quarto os jovens que frequentam as diversas vias vocacionais no total dos matriculados no ensino secundário. São hoje metade, o que permite ter na escola mais 40.000 jovens do que seria de esperar se nada tivesse sido feito.

Em segundo lugar, esta adesão deve-se à percepção das pessoas e das instituições acerca da imperatividade de se qualificarem e desenvolverem as suas competências. Isto é, a Iniciativa tem concitado a adesão dos que contam, a começar pelas escolas, pelos centros de formação, mas também pelas autarquias, por um número inabitual de empresas e pelos cidadãos.

Esta adesão operou a ruptura com o mito de que os portugueses não gostam da escola. Mas isso, por si só, não chega. É preciso que a escola também goste deles e promova respostas diversificadas, flexíveis, exigentes mas adequadas às ambições e às opções de cada um.

Serviços acessíveis implicam profissionais empenhados, orientados para a missão e capazes de se colocar ao serviço da aprendizagem de jovens e adultos. Esta cultura de serviço e de orientação para resultados está, aliás, a produzir efeitos positivos em todo o sistema de ensino e formação.

Por fim, destaco a frequência com que a Iniciativa e os seus promotores se expõem ao escrutínio público, à avaliação independente, ao acompanhamento transparente.

Neste domínio, estamos no pelotão da frente da Europa. E é este domínio que nos pode impulsionar como país. Portugal tem futuro sem a Iniciativa Novas Oportunidades. Mas não será o futuro que queremos"

Luís Capucha (Presidente da Agência Nacional para a Qualificação) - "Deu-se uma ruptura com o mito de que os portugueses não gostam da escola", jornal PÚBLICO, 7 de Julho de 2010, p.5

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